Reeditei
este post pelo seguinte:
1-No
primeiro post prometi falar sobre o encontro com esta maravilhosa imagem da
Virgem. É o que faço agora.
2- O
comentário do Luis (do Velharias) achando-a tão bela. Blogueiro muito especial, sobretudo para
os amantes de Arte e Antiguidades...
3- O
dia especial da Mulher. Uma Mulher homenageada entre todas e junto a todas.
Eis
então (não deu para ser breve):
1- Primeiro Motivo: a Busca, Encontro e Presente maravilhoso de uma Obra de Arte ...
Tenho
um primo, agora já na universidade, que quando menino, sabendo de minha
predileção por Arte Sacra falava-me sobre uma imagem no quintal de uma casa de
nossa cidade. Dizia-me assim: “ É um São José, primo, de madeira e é antigo eu
conheço...” Mas nunca fazia caso. Depois de tanto gesso novo... resina ... Não
andava mais atrás. Ele era pequeno para saber destas coisas, eu pensava. Ainda mais num quintal, ora. O tempo foi
passando e sempre que me recordava de sua história e seu entusiasmo,
encontrava-me morando fora e até bem distante neste imenso Brasil...
Mas
num dia 8 de Dezembro (dia especial da Virgem) estava em minha cidade num ano
de muitas chuvas e enchentes, 2008, eu acho. E vendo tanta coisa revirada, não sei por quê, lembrei-me da história de meu primo, a localização que ele dava: o gramado (muito raro nas
casas aqui), o murinho baixo... Decidi que devia verificar...
Corri
até lá para ver se havia mesmo esta tal imagem antiga de São José...
Quando cheguei, frustração: portão trancado e algum mato crescido no
gramado que se via acima do muro baixo.
Chamei, bati... Até que veio abrir uma senhora. Cumprimentei-a e fui logo direto: “meu
primo me disse que a senhora tinha uma imagem no quintal...” – “Ah sim, ela
está ali...” E me apontou um canteiro de flores junto ao muro lateral. Era um dia de mormaço depois de
muitas chuvas e ela estava entre e sobre gramas e um pouco de mato... Logo vi uma imagem de meio porte
esbranquiçada que sustinha uma criança.
Meu
coração disparou pelo que vi: Uma Nossa Senhora e não um S. José,
madeixas sem véu, olhos amendoados... Vi logo que era de madeira e antiga (nisto estava certo). Fiquei encantado e quase decepcionado ao
constatar seu estado de conservação: toda encharcada, se decompondo na terra
com raiz de grama tomando toda a base e se alastrando nas enormes fendas e
buracos que iam até o ombro... A
policromia (já muito repintada) toda se soltando do estofamento craquelado e
amolecido... Pedi para ver (aqui “ver” é
tocar). Com cuidado a arranquei do chão (quantos fragmentos na terra); estava
até meio mole e o pino que prendia o Menino se desfez ao menor movimento... mas
não o deixei cair.
Fiquei
por uns instantes sem saber o que dizer. E comecei dizendo que era tão bonita... Deveria ser restaurada... Essas
coisas. E depois de mais algum silêncio, quando a recolocava em seu nicho de
grama, perguntei se ela não negociaria ou trocaria aquela imagem... (nunca negociam). Ela me respondeu perguntando se eu não era fulano,
filho de sicrano e sicrana... Respondi que sim. Então ela me disse para ficar com a
imagem de PRESENTE. Quase não
acreditei. Agradeci e a trouxe correndo para casa. Estava muito encharcada, havia chovido muito naqueles dias. Liguei um ventilador direto sobre ela que repousava sobre uma mesa. Ao longo da noite levantei
algumas vezes para olhar minha SANTINHA e ver se era verdade que estava ali...
Depois,
se Deus quiser, conto como fui consolidando o que sobrou de uma robusta
escultura em madeira pesada. Soube que
foi venerada durante anos junto a uma fonte numa espécie de “gruta” e
ultimamente foi trazida do sítio e colocada no jardim (sol, chuva, sol, chuva
durante anos...) de muro muito baixo, menos de 1 m e à beira de uma
rodovia... A intenção do querido casal
doador foi a melhor possível: uma imagem no jardim. Não atinaram para o que
chamamos conservação... Mas sou imensamente agradecido ao seu gesto de
generosidade e também ao meu primo...
Por
isso tenho esta imagem como um prodígio, sobretudo por ser da Mãe e do Filho
originais, obra do sonho e trabalho de um grande artista anônimo e que ficou exposta a tanta intempérie e perigos.
2-Segundo motivo: Comentário do Luis.
O Luis comentou que ela é linda assim: “esculpida
pelo tempo", numa referência a Marguerite Yourcenar (agradeço a citação que me
despertou interesse) e sugeriu um fundo
vermelho. Também pensei em algo parecido. Tive um grande e belo oratório eclético (na verdade um camarim) com
fundo esgrafitado sobre o ouro e
com belas rosas... Daria certinho para ela que, por enquanto, fica guardada num armário. Do oratório tive que me desfazer. Ao Luis agradeço a sugestão e vou ver o que faço...
3- Terceiro motivo: Dia Especial da Mulher
Quando
a Escritura diz: “Bendita és Tu entre as mulheres”, destaca e designa muito
especialmente Maria entre as filhas de Eva, mas também se pode e deve
considerar que esta bênção estende-se a todo gênero materno-feminino. Parabéns para todas!
As fotos deste post, com exceção da que está coroada, foram as primeiras que tirei.
Praticamente uma Vênus de Milo.
Comecei a remover esta última tinta (plástica, mas que ajudou a preservar da intempérie a que ficou exposta diretamente durante anos...).
Esta parte do braço direito, que ainda não estava fixada, foi causa de um grande susto:
Imagina que algum tempo depois de receber este maravilhoso presente recebo uma ligação da querida senhora que havia feito a doação pedindo que eu passasse em sua casa.
Arrependimento? Reclamação de algum filho? Pensei... Mas era para dizer que havia encontrado este braço... Mais um presente.
Pode-se notar a diferença do tom róseo desta parte que, certamente, ficou exposta somente até se soltar no jardim...
Aqui se vê bem o pedaço de cedro que colei na base oitavada. Não parava em pé. Só na terra do jardim...
Mão e todo o resto muito bem talhado. Obra de Mestre.
Ainda vou remover o restante desta tinta mais recente, mas não vou mexer muito mais. Só o bracinho do Menino... Para devoção, estes membros perdidos fazem falta, não para decoração ou museu... As perdas na policromia e desgastes também não interferem neste fim.
Outra coisa são os xilófagos e fungos. Ela está muito propensa.
Sei que um dia esta bela e preciosa imagem voltará ao pó, como também todos nós. Mas enquanto houver humanidade sobre a terra, toda Arte pode e deve ser preservada.
E quando tudo voltar ao pó, os Originais Ideais mostrarão, na Eternidade, seu incorruptível valor.
"SEJA BENDITA ENTRE AS MULHERES"