terça-feira, 18 de março de 2014

LOUÇAS: DUAS BILHAS VERAMENTE ITALIANAS E UMA TERCEIRA, TALVEZ, BRASILIANA... (ANTES QUE OS GATOS QUEBREM).



Ultimamente estou tentando aproximar minhas duas paixões: Arte Sacra e Louça.




Então resolvi colocar sobre um arcaz um antigo oratório de pobre (caixote de peixe) mas com boas e autênticas "dobradiças de canetas" que lhe garantem ao menos meados do XIX.



Na parede uns pratos diversos (os que mais gosto ficam por outros cantos, mas não são muitos).
E junto ao oratório havia colocado umas louças que gostava bastante. Entre elas duas bilhas lindas:
Uma portuguesa (na verdade, L. Salvador das primeiras que é praticamente a mesma coisa) e uma Delft bem antiga que não trazia os onipresentes moinhos mas borboletas e outros bichinhos sobre tulipas... 
Foi tudo quebrado por um dos gatos... ou pelos três juntos.


Por isso resolvi fazer um post com estas bilhas que chegaram agora. Esta primeira, italiana em cerâmica com pintura clássica.



Traz as inscrições: "OIL"...



E...  "MENTA".



Mede 24x20 cm (tampa perdida) 
Na descrição do leilão constava como sendo de séc. XIX.
Ainda não conheço o bastante para avaliar.



Mas é linda, independente da época.



Traz a figura de três "putti". 
Dois com potes e um com instrumento musical.



Assinada com um galo.



Esta outra é mais simples e parece ser mais nova.
 Comprei na Feira da Gávea. 



 Mede  25x17 cm com a tampa. Louça branca craquelada.



Com inscrição em Latim.



E marcada em Inglês. 

As vezes, nós brasileiros, nos ressentimos de um certo imperialismo estrangeiro. Mas o que dizer de tanto "Made in" nas louças ibéricas do Velho Mundo?



E, por fim, esta  tão singela. 
Foi comprada num brechó, vitrificada por dentro, pelo menos no gargalo.
Mede 20x14 cm.  Não apresenta marca. 
Não fiz a  foto do fundo porque acabou a pilha... 


sábado, 8 de março de 2014

ARTE SACRA: SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS II (VÁRIAS MOTIVAÇÕES).




Reeditei este post pelo seguinte:
1-No primeiro post prometi falar sobre o encontro com esta maravilhosa imagem da Virgem. É o que faço agora.

2- O comentário do Luis  (do Velharias) achando-a tão bela. Blogueiro muito especial, sobretudo para os amantes de Arte e Antiguidades...

3- O dia especial da Mulher. Uma Mulher homenageada entre todas e junto a todas.

Eis então (não deu para ser breve):

1- Primeiro Motivo: a Busca,  Encontro e Presente maravilhoso de uma Obra de Arte ...

Tenho um primo, agora já na universidade, que quando menino, sabendo de minha predileção por Arte Sacra falava-me sobre uma imagem no quintal de uma casa de nossa cidade. Dizia-me assim: “ É um São José, primo, de madeira e é antigo eu conheço...” Mas nunca fazia caso. Depois de tanto gesso novo... resina ... Não andava mais atrás. Ele era pequeno para saber destas coisas, eu pensava.  Ainda mais num quintal, ora. O tempo foi passando e sempre que me recordava de sua história e seu entusiasmo, encontrava-me morando fora e até bem distante neste imenso Brasil...

Mas num dia 8 de Dezembro (dia especial da Virgem) estava em minha cidade num ano de muitas chuvas e enchentes, 2008, eu acho. E vendo tanta coisa revirada, não sei por quê, lembrei-me da história de meu primo, a localização que ele dava: o gramado (muito raro nas casas aqui), o murinho baixo... Decidi que devia verificar...

Corri até lá para ver se havia mesmo esta tal imagem  antiga de São José...  Quando cheguei, frustração: portão trancado e algum mato crescido no gramado que se via acima do muro baixo.  Chamei, bati... Até que veio abrir uma senhora.  Cumprimentei-a e fui logo direto: “meu primo me disse que a senhora tinha uma imagem no quintal...” – “Ah sim, ela está ali...”  E me apontou um canteiro de flores junto ao muro lateral. Era um dia de mormaço depois de muitas chuvas e ela estava entre e sobre gramas e um pouco de mato...  Logo vi uma imagem de meio porte esbranquiçada que sustinha uma criança.

Meu coração disparou pelo que vi: Uma Nossa Senhora e não um S. José, madeixas sem véu, olhos amendoados... Vi logo que era de madeira e antiga (nisto estava certo).  Fiquei encantado e quase decepcionado ao constatar seu estado de conservação: toda encharcada, se decompondo na terra com raiz de grama tomando toda a base e se alastrando nas enormes fendas e buracos que iam até o ombro...  A policromia (já muito repintada) toda se soltando do estofamento craquelado e amolecido...  Pedi para ver (aqui “ver” é tocar). Com cuidado a arranquei do chão (quantos fragmentos na terra); estava até meio mole e o pino que prendia o Menino se desfez ao menor movimento... mas não o deixei cair.

Fiquei por uns instantes sem saber o que dizer. E comecei dizendo que era tão bonita... Deveria ser restaurada... Essas coisas. E depois de mais algum silêncio, quando a recolocava em seu nicho de grama, perguntei se ela não negociaria ou trocaria aquela imagem... (nunca negociam).  Ela me respondeu perguntando se eu não era fulano, filho de sicrano e sicrana... Respondi que sim. Então ela me disse para ficar com a imagem de PRESENTE.  Quase não acreditei.  Agradeci e a trouxe correndo para casa. Estava muito encharcada, havia chovido muito naqueles dias. Liguei um ventilador direto sobre ela que repousava sobre uma mesa.  Ao longo da noite levantei algumas vezes para olhar minha SANTINHA e ver se era verdade que estava ali...

Depois, se Deus quiser, conto como fui consolidando o que sobrou de uma robusta escultura em madeira pesada.  Soube que foi venerada durante anos junto a uma fonte numa espécie de “gruta” e ultimamente foi trazida do sítio e colocada no jardim (sol, chuva, sol, chuva durante anos...) de muro muito baixo, menos de 1 m e à beira de uma rodovia...  A intenção do querido casal doador foi a melhor possível: uma imagem no jardim. Não atinaram para o que chamamos conservação... Mas sou imensamente agradecido ao seu gesto de generosidade e também ao meu primo...

Por isso tenho esta imagem como um prodígio, sobretudo por ser da Mãe e do Filho originais, obra do sonho e trabalho de um grande artista anônimo e que ficou exposta a tanta intempérie e perigos.

2-Segundo motivo: Comentário do Luis.

 O Luis comentou que ela é linda assim: “esculpida pelo tempo", numa referência a Marguerite Yourcenar (agradeço a citação que me despertou interesse) e sugeriu um fundo vermelho. Também pensei em algo parecido. Tive um grande e belo oratório eclético (na verdade um camarim) com fundo esgrafitado  sobre o ouro e  com belas rosas... Daria certinho para ela que, por enquanto, fica guardada num armário. Do oratório tive que me desfazer. Ao Luis agradeço a sugestão e vou ver o que faço...

3- Terceiro motivo: Dia Especial da Mulher

Quando a Escritura diz: “Bendita és Tu entre as mulheres”, destaca e designa muito especialmente Maria entre as filhas de Eva, mas também se pode e deve considerar que esta bênção estende-se a todo gênero materno-feminino.  Parabéns para todas! 




  As fotos deste post, com exceção da que está coroada, foram as primeiras que tirei.




Praticamente uma Vênus de Milo.




Comecei a remover esta última tinta  (plástica, mas que ajudou a preservar da intempérie a que ficou exposta diretamente durante anos...).




Esta parte do braço direito, que ainda não estava fixada, foi causa de um grande susto:
Imagina que  algum tempo depois de receber este maravilhoso presente recebo uma  ligação da querida senhora que havia feito a doação pedindo que eu passasse em sua casa.
 Arrependimento? Reclamação de algum filho? Pensei...  Mas era para dizer que havia encontrado este braço... Mais um presente.

 Pode-se notar a diferença do tom róseo desta parte que, certamente, ficou exposta somente  até se soltar no jardim...



Aqui se vê bem o pedaço de cedro que colei na base oitavada. Não parava em pé. Só na terra do jardim...




Mão e todo o resto muito bem talhado. Obra de Mestre.




Ainda vou remover o restante desta tinta mais recente, mas não vou mexer muito mais. Só o bracinho do Menino... Para devoção, estes membros perdidos fazem falta, não para decoração ou museu... As perdas na policromia e desgastes  também não interferem neste fim.

Outra coisa são os xilófagos e fungos. Ela está muito propensa.

Sei que um dia esta bela e preciosa imagem voltará ao pó, como também todos nós. Mas enquanto houver humanidade sobre a terra, toda Arte pode e deve ser preservada.
 E quando tudo voltar ao pó, os Originais Ideais mostrarão, na Eternidade, seu incorruptível valor.



"SEJA BENDITA ENTRE AS MULHERES"