Foi exatamente esta imagem que vi (e me apaixonei) num
anúncio de leilão. A diferença é que no site havia um galaxy 5 (acho que é um
celular) ao lado esquerdo da base, como referência de tamanho. Estava anunciada
assim: "Imagem mineira (sic), madeira ... 93 cm... coroa de prata... etc" e com
um valor de base que bem pagaria a coroa, e só. Quem entende um pouquinho de
imaginária brasileira vê logo que se trata de uma imagem baiana. Mas gostei
dela e fui acompanhando durante uma semana mais ou menos os lances do leilão e
nada de alguém lançar neste lote da Imagem "mineira".
Finalmente chegou o dia do pregão e fiquei com pena por
ninguém ter lhe dado valor. Resolvi fazer um lance, mas quando ia digitar
pensei que seria mais prazeroso acompanhar o leilão e dar pelo menos o primeiro
lance e algum mais (ainda que outros o superassem). Mas esqueci-me que naquele
dia estaria no norte do Estado numa cidade chamada Varre-sai (produtora de
café) e terra do famoso Baden. Não vi problema. Lá eu acessaria o leilão numa
lan e pronto. Mas não foi bem assim. O leilão começaria às oito da noite. Informei-me que as 2 lojas que
há por lá fechavam às dez e pelo número do lote calculei que seria apregoado
lá,pelas 11. Há uma cidade relativamente próxima, Natividade, mais abaixo da
serra. Corri até lá e...nada. Também fechavam por volta das 11 e não,podia arriscar.
Fui para Itaperuna, bem mais distante, a mesma coisa. Nos hotéis e pousadas só
tinham o hi-fi. Tinha que voltar para
Varre-sai porque precisava estar lá ainda pela manhã do outro dia. Comecei a
subir a serra meio triste porque não pude acompanhar o leilão de minha
Santinha.
Quando cheguei era por volta das 11 h da noite. Fui tomar um sorvete e
comentei com a dona da sorveteria a minha busca por um computador e minha tristeza... Ela de
pronto disse que eu poderia ir até sua casa e usar o seu. Aceitei correndo e
fomos num fôlego só. Lá chegando, máquina desligada. Segundos eternos. Máquina
ligada, internet não logava... Deu pau, reiniciou... nada. Ligou para o irmão ir dar um
jeito. Agora sim, eram minutos eternos. Ele chegou, reiniciou mas não conseguiu
logar. Não era meu dia, pensava. Ouvia ele dizer que ia desinstalar isto e
aquilo que estava travando o computador... Até que que ele se virou para mim e
disse: "pode usar". Entrei na
busca, entrei no site e entrei na conta. Quase não acreditei: na tela estava o
lote de minha Santinha sendo apregoado já no "dou-lhe duas" (a mais
pura verdade). Confirmei a base e agora que era para fechar rápido, nada.
Quantas voltas. Mas por fim me comprometi e nem dormi direito aquela noite.
Foi muito
providencial que a máquina ligasse exatamente no pregão do lote. Três cidades,
hotéis e pousadas e na casa de tão caridosa senhora, o computador travado...
Por isto penso que foi Nossa Senhora que quis que esta sua Imagem ficasse
comigo, mesmo que tantas circunstâncias mostrassem o contrário. Cinco dias
depois parti para São Lourenço-MG para buscar minha Santinha, não quis que
viesse pelo Correio... Lá chegando é que vi realmente como era a Imagem. Fotos ampliam,
reduzem, escondem ou distorcem a realidade.
Mas era minha Santinha Milagreira e não importavam seus trejeitos. Sua
doçura e serenidade suplantam qualquer erudição sem sentimento...
Que era baiana eu já sabia. Do XIX também. Mas só lá fiquei sabendo que não eram 93 cm e sim 73 cm (20 eram da coroa). Depois vamos percebendo a feitura bem popular e despreocupada do santeiro. Este talhe aprumadinho e este rostinho redondo e feliz das imagens baianas se acham às centenas. Mas uma imagem com este tamanho, não. Há, ainda para lhe aumentar a graça e encanto, um"biquinho" de véu bem na divisão das mechas do cabelo partido ao meio... E um cíngulo para prender parte do manto.
"DEFEITO" : O que mais lhe reparei (depois de toda doçura, encanto e singeleza que representam bem a Mãe de Nosso Senhor) foi a falta de um pouquinho mais de madeira em certas partes, sobretudo no ombro direito. O esquerdo é compensado um pouco pelo manto. E se olharmos bem veremos que a "menina do olho" direito é ligeiramente maior que a outra. Os anjinhos são estrábicos e o da frente parece ter chifres (a lua atrás das orelhas). E as mãos com dedos tão finos que se fundem...
A cintura ficou um pouco mal marcada. Deste ângulo está bem, mas de frente, não.
O lado de trás até que foi bem feito.
E assim, mesmo cheia de trejeitos, a entronizei num oratório da sala com a dignidade que dispunha para lhe oferecer. O oratório é daqueles D.João ou D. Maria "com leques", presente de um querido amigo. Os tocheiros folheados a ouro do séc. XIX de uma loja da Rua do Lavradio (pena que estão fechando).
Quando fazia as fotos do oratório olha quem estava atrapalhando... ele tem mais dois irmãos: um gêmeo e outro ranjado (rajado)...
Estas 3 cabeças soltas (que parecem ser pernambucanas ou portuguesas) são de um outro leilão e certamente de uma outra Imagem da Imaculada... Os vasinhos são nacionais sem marca. A floreira em prata portuguesa.
Um dos terços que traz agora é bem antigo (português) de esferas maciças. O outro, de contas "confeitadas" ou de Viana, na verdade é um "terço" islâmico, comprados na Feira da Pça. XV. A pequena salva portuguesa até que serve como resplendor.
AVE CHEIA DE GRAÇA. O SENHOR É CONVOSCO!