terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

ARTE SACRA: NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. UMA PEQUENA JOIA DA IMAGINÁRIA BRASILEIRA.








Faz  um tempinho que ganhei de um querido primo esta joiazinha:

Nossa Senhora da Conceição.
Uma palmo de graça e encanto.
Madeira policromada e dourada.
Base oitavada.
Pontos de punções.
Séc. XIX.




Apesar de pequenina é toda imponente.
Trabalho de algum Mestre da Imaginária Brasileira.




Esta imagem é muito intrigante 
quando se tenta atribuir-lhe uma determinada Escola.

Isto porque ela apresenta características das 3 principais Escolas que temos por aqui:


MINEIRA, BAIANA e PERNAMBUCANA.

De Mineira ela tem:
os olhos espaçados e ligeiramente vesgos,
 o narizinho arrebitado, os dedos de agulha, 
as cores, uns raminhos na decoração...

De Baiana:
 os grandes florões de ouro.

E de Pernambucana:
 o talhe frontal, as linhas verticais do manto, 
as espirais da voluta e as 2 cabeças na base.

Isto falando a grosso modo. 





Talhe pernambucano.




Bastante frontal (Pernambuco).





 Duas cabeças (Pernambuco).
Mas com feições mineiras...




Rosto e mãos mineiros. 
As florzinhas também.





Os florões dourados  são baianos.





E além de ser toda misturada e encantadora,
apresenta muita familiaridade com conhecidos Mestres Mineiros.

Mestre de Piranga, Mestre de Barão de Cocais (sobretudo este)...


Um tesouro da Imaginária Brasileira.








"QUE OS TESOUROS BEM AMADOS.
COMPRADOS OU DE BEM QUERER GANHADOS
 ENCANTEM SEMPRE OS CORAÇÕES ALADOS.
QUE VAGUEIAM LONGE POR ESTE BENS SONHADOS"...





4 comentários:

  1. Amarildo

    Acho muita graça a esta peça de arte sacra mais ingénua, sem dúvida saída das mãos de um santeiro local.

    De facto não conheço nada sobre as oficinas de santeiros brasileiros para dizer se a imagem é pernambucana, mineira ou baiana, mas o que a experiência me ensinou é que estas imagens vão sendo alteradas ao longo dos séculos pelos seus proprietários. Um manda ao santeiro local repintar o traje, outro altera-lhe o rosto e ainda outro manda substituir as mãos que se perderam. Em suma as características originais da obra são alteradas, muito embora, por vezes essas modificações se tornem parte integrante da história do objecto.

    Um abraço

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  2. Luis querido.

    Obrigado.

    Mesmo para nós daqui e mesmo para muitos conhecedores da Arte Sacra brasileira há peças que deixam grande margem de dúvidas no tocante as tais "Escolas" e outras especificações como época, etc. Isto porque tanto um século se retardou em outro e até começo de outro como os Santeiros se valiam das obras uns dos outros. E há também peças, sobretudo pernambucanas (ou tidas como tais) que talvez sejam portuguesas. Algumas mineiras também...

    Mas temos 3 Escolas bem definidas: MG, BA, PE. Se bem que a Baiana e a Mineira podem se subdividir (coisa de louco ou sexo das Anjos...). Não desdenho destes estudos e pesquisas mas aprecio estas peças em sua singularidade, modelado, expressividade, etc.
    Claro que uma peça de Mestre, sobretudo se tiver atribuição abalizada, enriquece uma coleção.

    Voltemos à Santinha: Quando bati os olhos nela encantei-me por completo. Ela foge bem dos padrões comuns dos santinhos de oficina.

    A sua ideia de transformação pelos "remendos", carnações, etc, se verifica aos montes: Um devoto "troca" uma santinha em Minas. Depois muda para a Bahia, um certo dia a santinha cai ou toma chuva... E mesmo sem necessidade, há os que mandavam "carnar" as imagens nas festas do tal santo ou santa.

    Mas a experiência razoável que tenho me permite afirmar que esta santinha foi pouco ou nada mexida. Tem essa mistura toda desde seu nascimento. Daí ser tão intrigante. E apesar de todo ar de ingênua, na verdade tem talhe preciso, policromia esmerada proporções e panejamentos corretíssimos... Obra de Mestre, mesmo que ingênuo ou espontâneo, se quisermos.

    Depois vou responder o e-mail sobre a edição do Missal que teve grande influência em nossas pinturas de tetos e, quem sabe, em outras áreas de nossa Imaginária.

    Um abraço.

    ab

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  3. Amarildo

    O traje parece-me de época, século XVIII.Há pouco tempo vi no museu restaurarem uma peça destas e a técnica explicou-me o processo. Primeiro pintavam a imagem toda de dourado. Depois por cima pintava as outras cores, o azul, o rosa e o vermelho. Depois raspavam essas tintas para deixar a vista a orla do manto em dourado ou uma flor. Aplicavam também punções para dar a ideia de relevo dos tecidos.

    Nessa sua imagem o que me parece repintado é sem dúvida o rosto, cuja qualidade execução é menor que a do traje.

    Mas gosto muito da sua imagem


    Um abraço

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  4. Luis.


    O rostinho dela é para ser visto sem foco... Concordo que a pintura sobre o panejamento é bem mais elaborada. Outra coisa que destoa são os olhos. Normalmente nesta época eram de vidro. O pintados são de imagens bem mais antigas ou de santeiros sem recursos. O que não é o caso deste: ouro, cores nobres, ferramentas apropriadas... Talvez, como Vc sugeriu o rosto seja repintado numa carnação de devoção. Pois não parece haver perdas no estofamento. Já aconteceu de eu mexer em olhos pintados e descobrir olhos de vidro sob a camada de tinta. Mas apesar de eu visualizar esta possibilidade, não me atrevo..

    Tenho um pouco mais de uma dezena destas pequenas. E algumas gosto muito como esta.

    Um abraço.

    ab

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