sábado, 2 de abril de 2016

CERÂMICA PORTUGUESA: SETE PRATOS: "UM PEIXE PEQUENO, UM GALO GRANDE E OS PRIMEIROS GATOS" ... "FLORES E ATÉ UM PAGODE A RECORDAR AS ORIGENS..."




Tão português quanto chinês...


Como venho prometendo há tempos 
apresento agora meus novos pratos de Cerâmica Portuguesa.
Penso que do XIX ao início dos Anos 20. Mas sempre com cara e trejeito de mais antigos... 
Isso por causa da singeleza dos desenhos e vazados e pela rusticidade do acabamento das massas.
Não intendo nada dos processos cerâmicos mas já deu par aprender com os amigos blogueiros que este quase amadorismo e esta singeleza é que conferem a estas peças tanto atrativo.
 Sua titularidade específica é quase impossível, quando muito se afirma um "estilo",
 "ar de família",  "possivelmente de tal e tal região..."  E só.  
Mas é claro que em certos casos esse  tal ar de família é tão forte
que dá margem a uma atribuição provável...


Ícone  da Vida.

Embora ache aquelas postas cortadas, cruzadas por talheres algo tão especial.
Prefiro os peixinhos inteiros como a nadar, cheios de Vida...



I

Prato bem pequenino,

 Acho que seja prato de pão.
 Comprei por foto. Tem um terço do tamanho que julgava.
Não custou nem um sorvete... E veio veloz fazer companhia aos outros 2 que já tinha.


Seu reverso.



II

Este um pouco maior.

 Estanholado com flores e um pagode entre maciços .


Fundos.


O que tem de singelo tem de  belo.

Esta imagem que conjuga Arquitetura e Vegetação
ultrapassa oficinas, tempos e culturas...


III

Aqui um meio "borrado".

Sobre a limpidez do estanholado esta outra técnica meio esponjada.
Faz lembrar umas vasilhas que a gente usava  lá na roça.  Mas aquelas eram chamadas de "esmalte". Mais conhecidas como "ágata".  Esmaltagem sobre metal ferroso. Resistiam bem aos traumas mas os pequenos descascados eram logo tomados pela ferrugem. Mas enquanto não faziam perder o caldo eram normalmente usados, apesar de alterarem o sabor da comida...


Verso.




IIII

Aqui um bem grande.

Uma bela rosa estanholada envolta por círculos e uma  borda de guirlanda.


Partido e colado.

Penso que tenha sido gateado...



V

E aqui o que mais desejei.

Bem grande e um tanto irregular na modelagem da massa,
 E o Galo feito em parte vazado  parte desenho à mão livre se assemelha  muito
com um maior e bem inteiro que consegui há um tempinho..


São os primeiros "gatos" que pego.

Comprei por fotos também e não tinha visto o verso.
 Quando fui buscar, a organizadora do leilão me perguntou 
se eu não queria desistir porque ele estava muito quebrado...
Não sei se foi atenção dela ou uma manobra pois este também não custou
 nem um picolé e é possível que alguém que chegou depois tenha se prontificado
 em ficar com ele caso eu desistisse da compra.



VI

Este já foi mostrado.

Mas agora o faço mais de perto.
Muito lindo. E apesar de apresentar aquela singeleza mencionada,
 o efeito final é de total elegância e apuro técnico.


A modelagem como sempre apresenta rebarbas, etc.


Faz lembrar um delicado bordado sobre o linho...





VII


Este aqui apresento porque veio junto, nos lotes.
Mas penso que talvez não seja nem português.



Acho que é uma fruteira.
Massa bem pesada e craquelado bem pequeno.
Totalmente diferente dos demais.



Apresenta furos para se pendurar.





Estas foram as últimas aquisições.
Faltou um bem grande "falante" também e marcado.
Mas não consegui encontrar quando  fui fazer as fotos.
Deixo para uma outra postagem junto com outras peças portuguesas.





Ainda não coloquei na parede porque estou sem suporte de qualidade.
 Não vou arriscar com qualquer arame  peças que tanto estimo e amo.






"QUE OS ANJOS DIGAM AMÉM
QUANDO OS OLHOS VÊEM 
OU O CORAÇÃO PRESSENTE
AQUILO QUE VEM DE LONGE
MAS QUE PARECE SEMPRE 
TÃO DA GENTE
ATRAVESSANDO MARES
TEMPESTADES QUEM SABE
GUERRAS E FOMES TAMBÉM
PARA AO FINAL REPOUSAR 
ONDE SEMPRE DEVERIA ESTAR:
AO ALCANCE DO BEM QUERER,
DA MÃO QUE CUIDA,
DO OLHAR QUE  ENRIQUECE..."

11 comentários:

  1. Que bela colecção!
    Lindos, todos eles:)

    ResponderExcluir
  2. Isabel,

    Obrigado pela visita e pelos elogios.

    A Louça Portuguesa é minha segunda paixão. A primeira é a Arte Sacra, sobretudo o Barroco luso-brasileiro...

    Procuro alternar as postagens entre louça e arte sacra.

    E justamente em seguida deste post, pretendo mostrar uma bela Santa ISABEL Rainha de Portugal, que acabei de pegar com muito sacrifício. Tive que desfazer-me de uma peça que gostava bastante... Mas encantei-me pela imagem de bom porte e ar de majestade da Rainha Santa.

    Estou meio sumido de meu próprio blog e dos blogs amigos mas estou voltando, se Deus quiser.

    Um abraço bem brasileiro.

    PS. Não repare se eu colar esta resposta nos seus blogs. É só par começar conversa.

    ab

    ResponderExcluir
  3. Como está Amarildo?
    Tem andado meio desaparecido, e oxalá não seja por problemas de saúde, que lhe desejo boa.

    Os seus pratos parecem-me bem portugueses, exceto a sua "fruteira", que me é estranha.
    Os outros são peças relativamente comuns às casas portuguesas antigas, sobretudo àquelas onde ainda se dá crédito à faiança nacional.
    Não sei de fonte segura de onde são provenientes as suas peças, pois na falta de uma marca de fabricante, podem ser de qualquer sítio; o que nos atrapalha mais é o facto que todos os fabricantes se copiarem uns aos outros, pelo que o melhor que se pode pensar é sobre a região onde poderão eventualmente ter sido produzidos, e mesmo esta informação não é fidedigna.
    O que lhe posso dizer é que o pintor ceramista que lhe decorou o prato do galo também produziu um outro que possuo, e cuja ave é quase uma cópia exata deste que apresenta (só não é exata porque não há dois desenhos exatamente iguais).
    Assim como o prato com o peixe, que é uma versão igual a outro que tenho. É para ver como a faiança se inspira uma na outra, sem nunca se repetir exatamente. É esta uma das razões que encontro para a beleza da faiança, que arranja sempre novos caminhos e novas soluções para os mesmos problemas.

    Acho muito bonitos os seus tocheiros. Adquiri recentemente um tocheiro, que creio ser do século XVIII, e que também me encanta pelas formas peculiares, barrocas. Não aparecem muitas vezes, mas, quando se vêem, acarretam com eles uma nostalgia de épocas antigas.
    Cumprimentos
    Manel

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Manel,

      Muito obrigado pela visita e a apreciação.

      A fruteira suspeitei não ser portuguesa mas considerei dar-lhe um lugar entre as outras peças porque estava num lote.

      Os tocheiros são muito belos. Meio ecléticos. É que não foram bem focados neste post (qualquer hora faço dos que tenho). Estes peguei do espólio de uma grande personagem de nossa história do Teatro: Bárbara Heliodora. O ouro sob a purpurina opaca está bem luzente mas deve haver muitas perdas no douramento, daí a razão de borrarem com purpurina.

      Os anjos de coroamento são divinos, tinha um outro par deles, mais fragmentados (que infelizmente tive que me desfazer).

      Depois vou postar uma S. Isabel, Rainha de Portugal. Sei que seu forte não são as peças sacras, sobretudo as destinadas à piedade ou devocionais. Mas te convido a uma olhadinha.

      um abraço agradecido, sobretudo pela minha saúde. Que vou levando...

      ab

      Excluir
  4. Caro Amarildo,

    Mais uma vez nos brinda com peças lindas!

    Tal como muito bem diz o nosso amigo Manel, no tempo dos nossos avós, quase não havia casa portuguesa que não tivesse esse tipo de pratos. No entanto, e por muitas vezes que os olhemos, sempre nos encantam.
    Por exemplo, em casa de minha avó materna existiu em tempos (na verdade partiu-se) um exemplar em tudo idêntico ao seu prato do galo. E já após a morte dessa avó, uma prima ficou com uma bacia extremamente semelhante com o seu prato da rosa.
    Mas não pense com isto que será muito fácil encontrá-los, pois muitos se perderam em autênticos desastres domésticos levados a cabo por criadas menos cuidadosas, e os que chegam até nós nem sempre estão em boas condições. Por outro lado, tanto cá, como certamente aí no Brasil, os preços não são lá muito convidativos, e raramente se consegue uma pechincha.
    Seja lá como for, esses que conseguiu "caçar" ficam maravilhosos em qualquer sítio.
    Resta-me falar da taça ou fruteira. Quando olho para ela parece-me que tem algo de Espanha, mas posso estar redondamente enganada. Talvez o nosso amigo Luís Montalvão consiga desvendar o mistério...

    Despeço-me com um grande abraço, e faço votos para que continue a fazer belas aquisições para deleite seu e de todos nós!

    Alexandra Roldão

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Alexandra.

      Ando sumido do blog dos amigos. Mas vou te fazer uma visita. Estou viajando e resolvi abrir o blog e fui gratificado pela visita de vocês que sempre têm um bom olhar e uma boa crítica. Também penso que a fruteira possa ser espanhola ou coisa assim. Também penso que não seja antiga.

      Como o Manel disse, e você igualmente estas peças se parecem sempre com alguma que temos ou já vimos. Foram copiadas à exaustão. Mas o que não nos cansa é que sempre trazem uma originalidade, um quê de diferença, por sutil que seja.

      Muito obrigado.

      Um abraço.

      ab

      Excluir
  5. Amarildo

    Bela colecção de pratos.

    Julgo que o último será espanhol. Português não é certamente.

    Um abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Luis,

      Obrigado da visita.

      Estes pratos me encantam.

      As razões são várias mas penso que a principal seja porque eles são, eu penso, o que há de mais popular na cerâmica portuguesa antiga. Daí mais matérias, artigos, mostras...

      E são também as peças que me chegaram primeiro quando me despertei para este gosto. Nada mais justo que tenham um lugara especial nas minhas velharias.

      Um abraço

      ab

      Excluir
  6. Caro Amarildo é sempre um prazer rever o seu blog, seja pela estética como apresenta as peças e pela qualidade das suas escolhas;desde mobiliário, arte sacra e faiança. É um homem de gosto peculiar, refinado, de muito bom gosto, parabéns.
    O pratinho que diz ser do pão...em tempos de antanho não havia pratinho para pão, o País era maioritariamente pobre e as famílias tinham poucos recursos. É mesmo um prato onde o "home" da casa comia, porque nas Beiras, os filhos "picavam" com o garfo de ferro numa bacia de faiança e o cachopo que fosse mole a comer ficava com fome...Este prato pelo tamanho e decoração da tarja da aba é típico da Fábrica Cavaco de Gaia.Além de peixes, pintaram vários tipos de galos, cestos com flores etc.Comprei um ontem com um peixe muito bem pintado para juntar a 5 da mesma fábrica de épocas diferentes, uns maiores que outros.
    Agora todos os outros pratos se fosse o ano passado atrevia-me a dizer que podiam ser fabrico entre norte e Coimbra...Mas recentemente foi editado um livro da Loiça de Vilar de Mouros, onde se dissipam ou não dúvidas pela semelhança na decoração e técnica com Coimbra, apesar de não abordarem, só José Queiroz o fez o século passado, mas fatal seja a comparação de peças, onde essa tocante é visível e intrigante.Por exemplo dá a conhecer que pintaram vastamente o cantão popular. Coisa que desconhecia por completo.
    Assim hoje diria que os restantes pratos serão produção norte, até do prato falante(?), pelo copianço de decorações.
    O seu prato com o pagode ao centro é fabrico do norte com muita certeza. Voltando ao Livro de Vilar de Mouros, não mostra nenhum fragmento encontrado junto do forno, nem peça completa de coleccionadores com este casario de cúpula com janelas de alto a baixo, que também tenho exemplares.Mas pode ser desta fábrica (?), que também na fase final nos anos 20 empobreceu a produção com texturas mais grosseiras, uso de esmaltes cor de grão e estampilhas grosseiras. Sei que não consegue com o seu PC abrir o meu Blog, mas quando puder veja a crónica temática que fiz sobre Vilar de Mouros.
    Em remate a taça é uma reprodução, não sei se nacional ou estrangeira.
    Obrigado pela partilha.
    Um abraço
    Isa

    ResponderExcluir
  7. Querida Misa.

    Obrigado.

    Logo que tiver uma oportunidade vamos conversar sobre os Vilar dos Mouros de sua postagem.

    Um abraço.

    ab

    ResponderExcluir
  8. Olá, notei que uma das figuras de mulher do vaso Devezas (onde aparecem imagens com mulheres fazendo vários tipos de artes plásticas) que não se sabe o que ela está fazendo, na verdade ela fz uma gravura em uma prensa de ferro, não sei se haviam prensas na Grécia no período Helenístico, mas existiam na China a mais de 1400 anos; o artista foi específico nas representações das imagens em relevo em poses com as ferramentas de trabalho e criação, como a Deusa da beleza fazendo arte.

    ResponderExcluir