sexta-feira, 23 de maio de 2014

ARTE SACRA: PINTURA, ESCULTURA: UMA JOIA ENTRE BOTÕES, UMA VOVÓ QUERIDA E SEU CONFUSO PAR (ESPOSO OU GENRO).



A joia é este pequeno broche.
Foi mais ou menos assim que o vi, só  que de longe e entre dezenas de outras peças
que formavam o lote: botões, parte de pulseiras, pingentes... 
E sismei com este personagem. Pareceu-me um sultão ou coisa parecida com uma criança ao colo.
Era dos últimos lotes de uma noite só de joias:
Belas esmeraldas, importantes diamantes... e peças pesadas... foram se sucedendo.
E eu esperando meu lote de quinquilharias com o sultão em lance livre.
Esperei, disputei um pouco mas valeu a pena.



Quando de posse do pacotinho de quinquilharias pude manusear  e confirmar uma intuição velada:
Um São Joaquim com Nossa Senhora ao colo.
 Iconografia incomum.




Pintura em miniatura sobre placa (concha, marfim, osso?) com guarnição em prata.
Não sei a época nem a procedência. 




E este papai todo carinhoso ainda segura um ramalhete de rosas...
 Havia ainda no lote uns 20 g de ouro e algumas pedras ...
Tenho este pequeno broche como uma preciosa joia. 
E uma das mais ternas imagens da paternidade no imaginário cristão que já vi.




Depois foi a vez desta Santana pela qual resolvi disputar.




Terracota portuguesa , olhos de vidro. Uns 35 cm.
E saiu bem baratinho, nem acreditei. Santana sempre inflaciona o pregão.




Precisa de limpeza.




Penteados semelhantes.




É uma Santana toda terrena. Não há um traço de sobrenatural.
 Mas se percebe sobre mãe e filha o olhar bondoso e divino.
Uma peça completa.
Mas queria arranjar-lhes um par...





E um dia desses vi esta peça oferecida em leilão:
Lote 0273
SÃO JOAQUIM. Imagem de madeira entalhada, policromada e dourada(com pequenos defeitos). Século XIX. Acompanha peanha. Alt. total 44 cm imagem 36 cm.




Deu para pegar.



E fiquei todo contente com o meu "S. Joaquim" português
para casar com a Santana. Ainda que de madeira.




Mas uns colegas e amigos me disseram que se tratava de um S. José
 porque não era calvo, etc.




E concordei com eles de início...




Mas agora estou em dúvida e não arriscaria uma afirmação categórica.





O ninho de passarinho não é onipresente; grande parte das imagens de S. Joaquim não o traz. 
Já a testa com cabeleira não me lembro de ter visto.
Ao passo que S. José idoso e bem barbudo se vê algumas vezes...




Por enquanto voltei a considerá-lo S. Joaquim.
 Mas se descobrir ser S. José terei uma missão quase impossível:
Encontrar um S. Joaquim de porte equivalente e com o Menino ao colo...
A Sagrada Parentela estaria bem formada.
Melhor ainda encontrar S. Isabel, S. Zacarias e S. João Batista Menino.





'"QUE NOSSAS FAMÍLIAS TÃO FIRMES NA TERRA POSSAM CONTAR COM AS GRAÇAS QUE CAEM DOS CÉUS"

9 comentários:

  1. Caro Amarildo dou-lhe os parabéns pelo feeling, tem bom gosto, fico espantada com as descobertas em arte sacra.
    Não deixa de ser curioso -, ambos termos a mesma língua com as mesmas palavras, mas no tempo por aqui maldosos deram-lhe sentidos diferentes.
    Falo do broche -, pois em Portugal soa a coisa erótica...
    Mas na verdade quando era pequena era assim que se chamavam as pregadeiras, alfinetes, de broches.
    Ora o seu broche é fabuloso!

    Pois o Brasil ao ser colonizado as famílias levaram nas malas Santos, imagens de arte sacra, por isso a quantidade delas em leilões.
    Sendo que fareja na sorte encontrar tais preciosidades a preços mui simpáticos.
    Um regalo de beleza e de pintura de todas sem exceção.

    Pois não o sei ajudar em definir se a imagem é o S. Joaquim ou S. José.


    Quanto aos "gatos" eram buraquinhos pequenos para não trespassar a peça que se arrematavam com os grampos de arame, os gatos, e depois barro e clara de ovo para vedar. Ao tempo não haviam colas como hoje, fazia-se cola para pendurar as bandeirolas nas festas com farinha e vinagre. Também havia árvores como a amendoeira cujo trono destilava uma goma que uma vez aquecida derretia e fazia de cola.
    Tenho uma travessa com 48 gatos...o que evidencia o carinho que o dono tinha nela para a continuar a estimar.

    Espero tenha apanhado a espiga.
    Um abraço
    Isabel

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  2. Querida MIsa.

    Muito obrigado.
    Veja como são as coisas. Quando escrevo aqui nos nossos blogs, às vezes fico preocupado se uma expressão vai soar assim ou assado... Mas nunca imaginei que "broche" pudesse expressar algo além de uma joia que se prende à roupa, um alfinete ornado, Depois vou me informar.
    Tenho o maior carinho por este "alfinete". Gostaria de ter uma Santana bem grande para que pudesse usá-lo como ornato. Também já pensei em sobrepor na minha imagem mais querida da Virgem (sec. XVIII e talvez XVII). Isso porque ela tem no peito uma cava em losango que abrigava uma pedra, joia ou pintura. Não são daquelas para relíquias. Tenho ainda 2 rocas (N. Senhora) que poderiam usá-lo.
    Como te falei, por aqui esses "gatos" são raros, pelo menos por por onde olho.
    Havia um dia desses uma travessa grande com uns grandes grampos mas perdi este leilão e nem sei se a peça saiu a bom preço.

    Um abraço agradecido.

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  3. Caro Amarildo,
    Você sabe que apesar de admirar, sou 100% leigo em arte sacra.
    Mas uma coisa eu notei e gostaria de te perguntar.
    Tanto no broche como na imagem de Santa Ana a pequena Maria parece um adulto em miniatura.
    Você saberia dizer o porque?
    Abraço!

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  4. Querido CD,

    Que bom ver Vc neste pobre blog. Obrigado.
    Sabe. Comecei, há uns 3 anos, e não terminei uma especialização em Arte Sacra (Pós-graduação no S. Bento do Rio, Curso que,.infelizmente, está fechando).
    Mas tem coisa que vai do gosto e do interesse, não se aprende em academias. O que não é o caso de "adultos" em miniatura no lugar de crianças. Isto se deu na Arte do Ocidente tanto quanto no oriente (veja os Meninos dos ícones bizantinos).
    Mas deste lado acho que tem ligação com o conceito de criança que se fez durante um certo período, até que uns cabeções relembraram que criança não é adulto em miniatura. Isto influenciava toda Arte, mesmo a Sacra. No período destas imagens isto já estava mais ou menos desfeito. Mas os modelos plásticos tanto da pintura quanto da escultura são bem anteriores... Acho que é mais ou menos isto.
    Cabe lembrar, contraditoriamente, que foi o cristianismo e mais precisamente o Cristo que pela primeira vez, do que se tem registrado, colocou a criança com valor, dignidade e modelo de "ser humano" mas sem deixar de ser criança. Aos adultos caberia a conversão e atenção a elas...

    Um abração.
    Vou ver se te faço uma visita. Por estes dia estou: desanimado, meio enfermo, cheio de pequenos problemas, etc. etc.

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  5. Já cá tinha vindo ver o seu novo post, mas nunca deixei nenhum comentário. Fiquei na dúvida se o broche representaria realmente S. Joaquim e Nossa senhora ou uma apresentação ao templo da Virgem. Mas, fiz algumas pesquisas na net e encontrei imagens semelhantes e julgo que o Amarido terá razão.

    Quanto ao termo broche, pode usa-lo no português coloquial e nos manuais de joalharia aparece frequentemente para designar um alfinete de colocar ao peito.

    Um abraço e as melhoras

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  6. Caro Luis,

    Obrigado pelas visitas, estimas de melhora (vou levando) e pelo luminoso comentário que me despertou ainda mais para o tema, mais complexo que imaginava.

    Quando fiz o post a dúvida era sobre o S. Joaquim (ou S. José) de madeira policromada e dourada das excelentes oficinas portuguesas. Jamais havia lançado dúvida sobre a miniatura. Tinha como certo ser S. Joaquim com sua Menina. Só não tive esta certeza antes de ver de perto, parecia um sultão... Pensei até mesmo no profeta do Islã com sua filha predileta: Fátima. Mas penso que não tenham pinturas assim por convicções religiosas...

    Pois bem, a partir de sua questão, se seria Nossa Senhora no templo, que considerei possível, de onício, tentei encontrar alguma coisa na rede e passo um resumo:

    1- Encontrei este blog com uma variedade enorme de boas imagens (maioria com crédito) e textos de referência aos temas (no caso, a apresentação da Virgem, tradição apócrifa, mas acolhida pelo grande sentido):

    http://tulacampos.blogspot.com.br/2011/11/apresentacao-da-santissima-virgem-no.html

    2 Logo no começo encontrei uma bela imagem (pintura) de São Joaquim com N. Senhora no colo com alguma semelhança com minha miniatura. Imagem, em exceção, sem nenhum crédito. Mas a falta do turbante me inquietou outra vez.

    3- Mais abaixo neste blog encontro quase uma versão ampliada do meu broche. Agora sim com créditos do pintor:
    Franz Joseph Spiegler.
    Mas que decepção veio junto. Estava intitulado: "Nossa Senhora com São Zacarias". Pensei que fosse uma falha de digitação, mas constatei por várias fontes a titulação deste belo quadro: Franz Joseph Spiegler – Mary and the High Priest Zacharias (18th C.).

    Agora complicava meu S. Joaquim carinhoso. Quando Vc aventou o templo pensei num sacerdote. Mas depois julguei que seria difícil pela familiaridade com que este personagem abraça a criança. Mas no caso de S. Zacarias isto é possível, lembremos que sua esposa é prima da Menina, mais precisamente uma tia-prima que até poderia ser por parte de S. Zacarias, neste caso um tio-primo. Que com todo carinho bem poderia ter a Menina em seus braços nos encontros de família. Lembrando que Zacarias e Isabel são de idade avançada em relação à Maria (dado bíblico).

    Agora estou na dúvida sobre meu broche. Mas encontrei um pintor do XIX com um Joaquim de turbante. A legenda é complicada:

    Werkstatt Gege, Seehausen am Staffelsee.

    Não sei onde começa nome do pintor ou a titulação da obra. Mas, em todo, caso vi alguma possibilidade de o meu broche também retratar um S. Joaquim de turbante.

    Agora vou ver se me informo melhor desta tradição de Nossa Senhora no templo.

    Por tudo isso te agradeço mais uma vez. Foram dezenas e dezenas de belas imagens que vi e que procuram retratar esta tradição.

    O que me comoveu foi a escadaria tão íngreme que a Menina teve que subir em alguns quadros... Outra imagem forte e destoante da maioria foi a de Santana chorosa com um lencinho na mão ao despedir-se da Filha: pintura barroca de Pierre Mignard.

    Um abração, barroco também, mas sem choro, o quanto se puder...

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  7. Antes de mais espero que se recomponha da sua saúde, pois nada é pior para a condição humana que uma saúde deficitária.
    Gosto bastante do seu broche (não se incomode com o termo, pois é coloquial e só lê de forma errada quem o quiser fazer) e a cena é tão intimista que é um primor.
    Apesar de ter sido educado em colégio religioso, a minha formação neste campo não é a melhor.
    Sei que é importante saber muito sobre a simbologia religiosa, pois na nossa civilização, não a conhecer é estar impedido de conseguir perceber uma porção da arte muito importante, a qual nos aparece hoje sobrecarregada de uma grande simbologia, pois era a forma de condensar informação religiosa, destinada a formar religiosamente pessoas que, à partida, eram analfabetas.
    Hoje continuamos analfabetos, mas por razões diferentes.
    Com esperanças de melhoras
    Manel

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  8. Manel,

    Muito obrigado, pelas estimas de melhoras, pelas visitas e comentários e por ter um bom olhar para minha pequena joia. Peguei este lote por intuição e também pelo baixo preço.
    Foi um de meus primeiros leilões... Nem sabia que se pode examinar um lote enquanto em exposição; estava numa vitrine depois de uma bancada.
    Mas se Você, também o Luis e o Claudio e alguns mais, com tanta coisa bela que tiveram e têm sob os olhos, repararam nesta pequena pintura é porque ela tem seu encanto.
    Pena que não sei nada sobre a origem, época... Penso que seja dos finais do XIX. É bem rústica até, com fecho muito simples.
    Curioso é que por estes dias adquiri uma aquarela de S. Joaquim e cismei que tem a mesma cara da miniatura, com barba menor... Mas se tiver algum parentesco não ajuda em nada pois este também não traz nenhuma assinatura ou data. Depois posto. Depois dos oratórios que te prometi postar, se Deus quiser.
    Um abração. Não sou muito afeito a esportes, mas torci e ainda dá para torcer por Portugal, espero que tenha êxitos. Obrigado mais uma vez. A atenção dos amigos também ajuda a gente se sentir melhor.

    Amarildo

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  9. Amarildo

    A graça destas peças está não só na compra, como nas pesquisas que fazemos sobre elas posteriormente. Muitas vezes só passado muito tempo encontramos a solução para o mistério, meramente por acaso.

    Um abraço

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